No entanto, estarei hoje panfletando proximo a um pardal que é parte de uma usina de multas
Como
haveria dificuldade em estacionar o carro, eu e minha mulher recorremos a uma
van, único transporte que nos levaria ao destino desejado.
O
veículo não estava lotado, mas tive que sentar no último banco, ao lado de um rapaz
de uns 24 anos presumíves.
O
motorista solicitou o pagamento e eu tirei do bolso um bolo de notas, puxei uma
de vinte e fiz chegar até ele.
Dois
ou três minutos depois, o rapaz mostrou-me um revólver 38 cano longo e ordenou
que passasse todo o meu dinheiro para ele.
Inesperadamente,
mesmo vendo a arma, como haviam outros passageiros, decidi discutir com o
assaltante. As pessoas nos bancos da frente não deram nenhuma atenção. Minha
mulher ficou nervosa.
Mas,
num lapso de distração do bandido, consegui pegar sua arma pelo cano e ficar
segurando, apontada para fora. Pedi ajuda aos demais passageiros, mas ninguém
quis se meter e ainda houve quem reclamasse que eu estava pondo em risco a vida
de todos.
Por
milagre, consegui tomar a arma e o bandido entrou em pânico, pedindo que não
atirasse nele.
Disse-lhe
que não era esse meu propósito, mas o de levá-lo preso.
O
motorista da van deixou-nos próximo a uma delegacia. Quando descemos, o bandido saiu correndo e eu
preferi não atirar.
Voltei-me
para os demais passageiros e reclamei da passividade de todos. Levei uma tremenda reprimenda. E só encontrei
um para ir comigo à Delegacia entregar a arma tomada do bandido.
Gente,
isso foi um sonho.
Porque sonho muito, eu mesmo bolei esse pequeno anúncio que sairá em três edições de O GLOBO, revezando com outros pagos também com doações recebidas. O que você acha? |
Acordei
às 4 da manhã desta quinta-feira fria e resolvi escrever esta crônica para
propor uma reflexão.
Provavelmente,
se isso acontecesse comigo na vida real, minha atitude seria outra. Mas lembro
que no início da década de 90, perto dos Arcos da Lapa, em meio a um trânsito
intenso, um garoto aproveitou que estava de vidro aberto e pediu-me a carteira,
insinuando que estava armado.
Não
usava carteira, naquele então. Sem pensar, esclareci isso, mas o rapaz insistiu
que eu deveria ter carteira. Como realmente não tinha, sem pensar duas vezes,
mantive minha postura. O sinal abriu e fui-me sem ceder ao bandidinho que, provavelmente,
estava apenas dando uma "sugestão".
Estava
no meu primeiro mandato. Cheguei à Câmara e fiz a comunicação do incidente da tribuna,
diante de um plenário vazio. Depois,
ouvi de alguns vereadores que eu estava inventando história para chamar
atenção. E nunca mais falei nisso, só voltando ao assunto quando outro garoto
meteu a mão no meu bolso no estacionamento da rua da Câmara e me levou o
dinheiro correndo, agindo com incrível destreza.
Volto à proposta da reflexão: não digo
que o certo seria tomar a arma do bandido, pois não há dinheiro que pague
nossas vidas.
Mas
será que esse sonho não remete para minha consciência crítica diante da visão
de passividade dos cidadãos que são assaltados por todos os meios e não apenas
nesse mundo degenerado da administração pública?
Na
noite de véspera, fui informado que a Sul América está aumentando em 19,96% a
mensalidade do plano de saúde em grupo do Sindicato dos Jornalistas, no qual
estou inscrito.
Isso
também não é um assalto? Para os que não
sabem, os seguros em grupo não sofrem controle de reajuste do governo. E não é a primeira vez que a Sul América
alega a tal "sinistralidade" para arrancar um aumento muito superior
ao dos nossos salários e aposentadorias.
Escrevi
às outras vítimas informando que ia procurar outra saída, que comprasse a minha
carência. Alguns colegas concordaram, mas um sugeriu que o sindicato fizesse a pesquisa.
O sindicato?
Lembrei que, apesar do protesto de um dos seus titulares, a diretoria decidiu
apropriar-se do dinheiro que ganhamos num outro processo contra essa mesma Sul
América.
Nesse
momento, liderados por esse diretor, estamos abrindo processo contra o próprio
sindicato para rever o dinheiro que pagamos a mais e ficou no meio do caminho.
Fiquei
pensando então: a coisa está feia, quanto mais rezamos mais aparece
assombração. ou se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
Epílogo:
Você
não acha que está na hora de dizer um BASTA ROTUNDO aos assaltos de que somos
vítimas diariamente, obrigando-nos a fazer das tripas coração para não cair
nesses sistemas de maus pagadores?
Espero
que tenham entendido meus escritos. Já não vou poder dormir mas um pouco, pois
logo irei panfletar num sinal próximo à
Avenida das Américas para distribuir meu jornal contra o LAUDÊMIO, outra
extorsão desde 1831, que atinge os proprietários das chamadas áreas de marinha,
definidas arbitrariamente pela voraz Secretaria do Patrimônio da União.
Estarei
próximo a um desses pardais caça-níqueis que nos submete a um novo tipo de
tortura e faz a festa da empresa terceirizada que leva 30% de cada multa
emitida, ajudando a aumentar a arrecadação da Prefeitura. Isso, apesar de
decisão da 2ª Turma do STJ, que considerou ilegais as multas dos pardais.
Mas
isso são outros quinhentos. Ou não?
PEDRO PORFÍRIO é candidato a vereador no Rio de Janeiro com o número 40123
PEDRO PORFÍRIO é candidato a vereador no Rio de Janeiro com o número 40123