É preciso reconciliar a escola com o aluno e isso só será
possível com mudanças amplas e profundas
"O Brasil ficou entre os
8 melhores do mundo no futebol e ficou triste. É 85º em educação e não há
tristeza".
Cristóvam Buarque, senador e
ex-ministro da Educação.
Independente dos fatos
recentes, escrevi minhas reflexões sobre a educação no Brasil, que vejo com
olhares bem mais abrangentes.
Há desafios crônicos, que
encabeçam qualquer agenda e exigem ações mais incisivas enquanto não chegamos
ao fundo do poço: a educação pública de qualidade e a atenção a saúde encabeçam
essas prioridades.
Na educação, gerações inteiras estão sendo enganadas
por um sistema que não prepara e não estimula o interesse pelo ensino –
antes pelo contrário. Para enfrentar
essa deficiência gravíssima, será preciso concentrar todos os esforços e todas
as reflexões na avaliação de todos
os aspectos dessa responsabilidade do poder público. É preciso ir fundo não
apenas no questionamento das condições de trabalho dos profissionais do ensino
e de aprendizado dos alunos – temos
obrigação de rever, aqui e agora, todo esse modelo excludente que predispõe o
aluno contra a escola, ou seja, há que reformular currículos e linguagens.
Do
contrário, tudo o mais será inútil, isto se quisermos oferecer condições para
que um aluno de escola pública não dependa do gatilho das cotas para chegar a uma Universidade do Estado e para
se tornar um bom profissional. Para tanto, vale lembrar o óbvio: a educação é antes de tudo um investimento
de base em qualquer sociedade que se proponha ao dever de casa para elevar o padrão
de vida do seu povo.
Nenhum gasto público social
contribui tanto para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) quanto os que
são feitos em educação e saúde.
Segundo o Instituto de
Pesquisas Econômicas Aplicadas, cada R$
1,00 gasto com educação pública gera R$ 1,85 para o PIB. O mesmo valor gasto na
saúde gera R$ 1,70.
Isto quer dizer que a
educação deve ser a base das políticas públicas. Mas investimento não quer
dizer apenas mais dinheiro, como sinalizam nas 20 metas a serem cumpridas no
prazo de 10 anos pelo Plano Nacional de Educação. Quer dizer também critério, parcimônia e fortalecimento da instrução a
partir do ensino elementar, garantindo igualmente um ensino médio consistente. Quer dizer direcionar os currículos para a
qualificação e a presença do aluno na
escola de tempo integral.
A proposta do ensino em tempo integral, incorporada pelos CIEPs, é essencial. |
No ensino público
universitário é preciso estabelecer uma relação mais direta com o mercado de
trabalho. Não tem sentido as faculdades formarem alunos que vão se engalfinhar
na disputa de mercados restritos, enquanto faltam profissionais em outras
áreas, como acontece atualmente em especialidades da Engenharia.
Há que questionar também a
necessidade do retorno social do investimento num aluno custeado com recursos
dos nossos impostos. Já se tentou o comprometimento desse aluno ao se formar,
mas não existe nada de consistente.
O Brasil não dedica ao ensino
público menos do seu PIB do que a Coréia do Sul e Xangai, na China. No entanto,
os resultados obtidos nesses países nos deixam no chinelo. É preciso discutir
com a comunidade escolar cada centavo disponível. E não sair por aí comprando
laptops e aparelhos de ar refrigerado quando falta dinheiro para as atividades
fins do aprendizado. Quando não se
investe no magistério, muito menos no seu aperfeiçoamento e reciclagem.
Se precisamos de mais verbas,
não cabe criar mais impostos. Basta
direcionar para a educação os royalties do petróleo, gastos de forma
perdulária por muitos administradores.
Temos hoje 180 mil escolas no
sistema, segundo o IPEA. Na educação
básica estão empregados cerca de dois milhões de professores – dos quais
1,6 milhão na rede pública. No ensino
superior, são quase 340 mil docentes – 120 mil em instituições públicas.
Esse conjunto de
profissionais precisa ser motivado, treinado e tratado com dignidade para que a
partir deles possamos resgatar o indispensável ensino público de qualidade,
motor do nosso verdadeiro crescimento.
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