quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Reflexões sobre a educação no Brasil


É preciso reconciliar a escola com o aluno e isso só será possível com mudanças amplas e profundas

"O Brasil ficou entre os 8 melhores do mundo no futebol e ficou triste. É 85º em educação e não há tristeza".
Cristóvam Buarque, senador e ex-ministro da Educação.
Independente dos fatos recentes, escrevi minhas reflexões sobre a educação no Brasil, que vejo com olhares bem mais abrangentes.
Há desafios crônicos, que encabeçam qualquer agenda e exigem ações mais incisivas enquanto não chegamos ao fundo do poço: a educação pública de qualidade e a atenção a saúde encabeçam essas prioridades. 
Na educação, gerações inteiras estão sendo enganadas por um sistema que não prepara e não estimula o interesse pelo ensino antes pelo contrário. Para enfrentar essa deficiência gravíssima, será preciso concentrar todos os esforços e todas as reflexões na avaliação de todos os aspectos dessa responsabilidade do poder público. É preciso ir fundo não apenas no questionamento das condições de trabalho dos profissionais do ensino e de aprendizado dos alunos – temos obrigação de rever, aqui e agora, todo esse modelo excludente que predispõe o aluno contra a escola, ou seja, há que reformular currículos e linguagens.
Do contrário, tudo o mais será inútil, isto se quisermos oferecer condições para que um aluno de escola pública não dependa do gatilho das cotas para chegar a uma Universidade do Estado e para se tornar um bom profissional. Para tanto, vale lembrar o óbvio: a educação é antes de tudo um investimento de base em qualquer sociedade que se proponha ao dever de casa para elevar o padrão de vida do seu povo.
Nenhum gasto público social contribui tanto para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) quanto os que são feitos em educação e saúde.
Segundo o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, cada R$ 1,00 gasto com educação pública gera R$ 1,85 para o PIB. O mesmo valor gasto na saúde gera R$ 1,70.
Isto quer dizer que a educação deve ser a base das políticas públicas. Mas investimento não quer dizer apenas mais dinheiro, como sinalizam nas 20 metas a serem cumpridas no prazo de 10 anos pelo Plano Nacional de Educação. Quer dizer também critério, parcimônia e fortalecimento da instrução a partir do ensino elementar, garantindo igualmente um ensino médio consistente.  Quer dizer direcionar os currículos para a qualificação e a presença do aluno na escola de tempo integral.
A proposta do ensino em tempo integral, incorporada pelos CIEPs, é essencial.
No ensino público universitário é preciso estabelecer uma relação mais direta com o mercado de trabalho. Não tem sentido as faculdades formarem alunos que vão se engalfinhar na disputa de mercados restritos, enquanto faltam profissionais em outras áreas, como acontece atualmente em especialidades da Engenharia.
Há que questionar também a necessidade do retorno social do investimento num aluno custeado com recursos dos nossos impostos. Já se tentou o comprometimento desse aluno ao se formar, mas não existe nada de consistente. 
O Brasil não dedica ao ensino público menos do seu PIB do que a Coréia do Sul e Xangai, na China. No entanto, os resultados obtidos nesses países nos deixam no chinelo. É preciso discutir com a comunidade escolar cada centavo disponível. E não sair por aí comprando laptops e aparelhos de ar refrigerado quando falta dinheiro para as atividades fins do aprendizado. Quando não se investe no magistério, muito menos no seu aperfeiçoamento e reciclagem.
Se precisamos de mais verbas, não cabe criar mais impostos. Basta direcionar para a educação os royalties do petróleo, gastos de forma perdulária por muitos administradores.
Temos hoje 180 mil escolas no sistema, segundo o IPEA. Na  educação básica estão empregados cerca de dois milhões de professores – dos quais 1,6  milhão na rede pública. No ensino superior, são quase 340 mil docentes – 120 mil em instituições públicas.
Esse conjunto de profissionais precisa ser motivado, treinado e tratado com dignidade para que a partir deles possamos resgatar o indispensável ensino público de qualidade, motor do nosso verdadeiro crescimento.

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