quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Lucidez como matéria indispensável no currículo da educação pública

Universidades federais vivem momento delicado com as paralisações e as cotas sociais impostas


Universidades federais em greve. Professores e funcionários insatisfeitos. Alunos à espera de formatura. Cursos parados. Hospitais universitários adiando transplantes. Mais cotas por decisões no Congresso que ferem a autonomia universitária e mesclam assistência social com aferição de aptidões.

Não pode existir um coquetel mais explosivo para detonar a Universidade Pública, a parte sobrevivente da educação que nos é devida pelo Estado e abrir o “mercado” para as empresas particulares, que se espalham como todos os recantos como uma rede comercial de massificação do diploma superior.

Sinceramente, estou convencido de que, à falta de coragem para implodir formalmente o ensino público superior, estão tratando de miná-lo com a colaboração inconsciente de quem pode até estar cheio de razão e de direitos, mas deveria trabalhar numa equação que explicite seu protesto sem prejudicar os alunos e a própria sociedade, que investe com seus impostos na expectativa de profissionais qualificados.  

A notícia de que o Congresso aprovou uma nova lei de cotas, prevendo 50% das vagas nessas condições reflete a incompreensão dos parlamentares sobre a natureza da Universidade Pública e procura, em essência, encobrir o ensino de péssima qualidade nas etapas anteriores, especialmente no segundo grau.
Este encabeça a decadência do ensino público, conforme a pesquisa do IDEB, divulgada nesta quarta-feira.  Não podia haver casamento mais assustador: os mesmos alunos notoriamente  despreparados terão um janelão à disposição no ensino superior,  junto com os beneficiários das cotas raciais, um contrabando trazido dos Estados Unidos, onde até a década de  sessenta os negros eram oficialmente discriminados em sistema de educação  racista.
Nunca foi o caso do Brasil, de onde serem inconsistentes as alegações de uma dívida histórica a respeito de uma situação que nunca se configurou.  É preciso ser honesto para dizer que  os negros em nosso país não tiveram constrangimentos diferentes dos sofridos por seus irmãos brancos das classes sociais mais pobres.

À superfície, não há relação entre a situação dos professores, que pleiteiam remunerações dignas pela via da paralisação das aulas, e a aprovação de cotas ao arrepio das realidades de cada instituição.

Mas essa coincidência nos impõe uma reflexão madura e uma visão de perspectiva em relação  ao futuro. O mundo desenvolvido vive hoje momentos de crise dramáticos e é uma ilusão imaginar que o Brasil não poderá ser contaminado por essa instabilidade.
Ao contrário – e isso é outra preocupação igualmente pertinente – a economia brasileira priorizou as exportações e mais dia, menos dia a falta de dinheiro lá fora vai nos deixar sem ter  a quem vender.

No caso das nossas Universidades, algumas de reputação internacional, impõe-se uma visão redonda dos seus problemas, muito bem diagnosticados pelos professores, que podem ter exagerado na terapêutica. Para além de sua condição  comparativamente injusta há toda uma discussão maior tanto sobre as verbas a elas destinadas como sobre o entendimento das autoridades públicas, no Executivo e no Legislativo, sobre o peso da educação como um todo nos orçamentos dos entes governamentais.

Qualquer que seja a nossa responsabilidade na sustentação de um país que precisa responder aos grandes desafios da vida moderna uma coisa se faz indispensável: lucidez.  Esta é a palavra chave deste momento e que se aplica em todas as esferas do comportamento social. A lucidez deve presidir nossas atitudes, independente de qualquer outra motivação.

Um comentário:

  1. CONCORDO PLENAMENTE COM SEUS COMENTÁRIOS SOBRE A LEI DAS QUOTAS E A VULGARIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR. NÃO ADIANTA INCLUIR NELAS PESSOAS DESPREPARADAS. TEMOS QUE REFORÇAR O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NAS ESCOLAS PÚBLICAS. E VOLTAR AO SISTEMA DE, NO NÍVEL MÉDIO, SEPARAR OS ALUNOS VOCACIONADOS PARA O ENSINO DAS HUMANIDADES E DO TÉCNICO (ANTIGO CLÁSSICO E CIENTÍFICO), REFORÇANDO AQUELAS MATÉRIAS INDISPENSÁVEIS PARA UMA BOA BASE NA UNIVERSIDADE.

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