Queremos dar uma
dimensão mais ampla ao mandato de vereador na inquieta capital cultural do país
Como dissemos na primeira matéria, nossa intenção é exercer um mandato que considere a sua potencialidade de forma ampla e abrangente. Que pense o cidadão, enquanto pensa a cidade. Esse mandato não poderá ser apequenado pelos limites locais, pela circunferência da mediocridade míope de intervenções pontuais, porque sua essência é de uma profundidade inimaginável.
Daí a idéia
de uma reflexão existencial, eis que nossa pretensão mais aguda é a defesa da
qualidade de vida e a postulação de um homem novo, à prova dessa indústria do
estresse e da pressão do cotidiano, típicas das grandes cidades sem alma e sem
sentimentos humanos.
Queremos, sim, com a sua compreensão,
apoio e cumplicidade embelezar nossa própria razão de viver sem os lamentos que
a inoperância inercial fabricam. Queremos conviver com todo esse mundo mágico
da tecnologia e das facilidades das urbes modernas, mas queremos também
resgatar a candura e a placidez da cidade com taxas maiores de amor real e de
imunização contra a guerra surda que se instalou, submetendo-nos aos conflitos
mesquinhos, consciente ou inconscientemente.
Tudo por que já não se pensa, já não se
reflete, porque já perdemos o juízo crítico positivo. Porque aceitamos
passivamente como uma grande compensação a condição de analfabetos políticos,
de alienados funcionas, em situações que nos equiparam a baratas tontas, a
perdidos na noite, a presas da angústia e da amargura, a fantoches de um
sistema de decisão encomendada, cuja meta final é forjar uma cidade de idiotas,
de pessoas transformadas em figurantes de uma farsa de consequências
imprevisíveis.
Porque esse jogo sujo decompõe a família
no que ela tem de nuclear, de célula mater, distanciando pais e filhos, tornando
ilusórias, insípidas, inodoras, anti-orgásticas, superficiais
e frágeis as próprias relações entre marido e mulher, desfigurando o
respeito entre gerações, estimulando a competição gratuita, a desconfiança, a
busca de ser mais a qualquer preço, o exibicionismo, como se a vida moderna
fosse um turbilhão de partículas bélicas e como se não restasse a cada um outra
alternativa senão tratar de si, impondo-se e superpondo-se na exibição de
valores banais, mas de poder de
influência sobre a renúncia ao conhecimento e à sede da busca.
Não me causa estranheza se você pensa que estou querendo voltar à Câmara Municipal para ser mais do que um vereador.
Por que é isso que quero mesmo, forrado nos meus 69 anos de existência atuante, vivência e convivência. Que começaram neste Rio de Janeiro quando aqui cheguei, aos 16 anos, trocando os conflitos de uma família de posses pelo imponderável de uma cidade sedutora, cujo enigma só a juventude tem coragem de ousar desbravar.
Hoje, estamos falando de um dos tumores
mais expostos de uma realidade em que nos jogaram e em que nos jogamos no
consumismo que vai muito além do bom gosto e da boa conquista no que bem
poderia ser uma relação amistosa e prazerosa dos seres humanos com os frutos de
suas descobertas apaixonantes.
Porque, de fato, tudo o que esse mundo
feérico nos proporciona, com seus apelos mágicos, tem o vício da ambiguidade e pode se voltar contra
nosso verdadeiro nicho de felicidade, na medida em que nos escraviza à roda
vida dos sonhos de consumo movidos a impulsos incontroláveis, produzindo em
cada um de nós os mais conflitantes sentimentos – de vitória e de frustração,
de prazer e de inveja, de paz e de guerra.
O
que leremos a seguir é a crônica grotesca de uma cidade sem cidadania, onde a
palavra de ordem é vender tudo e qualquer coisa a pessoas que compram tudo e
qualquer coisa, como se ganhassem
destaque na exibição de uma grife, de um carro mais exuberante, de um
eletrônico mais sofisticado, mesmo que
não façam uso de dez por cento de seus dotes.
Tudo o que queremos nesta campanha é
convidar ao exercício do pensamento crítico e do raciocínio, porque a fila anda
e a cada um de nós sucedem-se as gerações que são sangues dos nossos sangues,
que precisam ter um horizonte palpável e expectativa plausível de um amanhã de
seres humanos e não de robôs.
“Beba com moderação”.
Aviso hipócrita após um anúncio que tenta induzir o
consumidor a beber todas.
Numa sociedade
de consumo, exacerbado inclusive como forma de salvar a economia, a falta de
regras claras caminha junto com a falta de escrúpulos de quem quer empurrar o
produto ou serviço, até porque depende de comissões para sobreviver. E isto
acontece em todas as situações, desde a simples venda de um eletrônico, até a
de um automóvel ou de um imóvel.
O consumidor
tende a se deixar seduzir por falsos brilhantes porque não é educado no hábito
de comparar, amadurecer o seu desejo e só fechar uma compra depois de
respondidas antes todas as dúvidas que terá depois.
Foi isso que constatei já em 1999, quando presidi a
Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara Municipal, aliás, um dos primeiros órgãos criados no Rio de
Janeiro nessa área, infelizmente esvaziado pelo comportamento de certos
vereadores, que se serviram dela para extorquir pequenos comerciantes, enquanto
tinham uma relação de cumplicidade com os grandes infratores, especialmente os
concessionários de serviços públicos.
Uma cumplicidade
tão ostensiva que, quando assumi, a Comissão limitava-se a repassar para as
concessionárias as queixas e estas, tão certas da inutilidade da reclamação, mandavam um moto-boy apanhar as reclamações,
sendo esse repasse o único trabalho dos seus funcionários.
A comissão não
dispunha de advogados e nem sequer de estagiários ou mediadores. Mas podia
fazer blitz com a colaboração de outros serviços de fiscalização do município,
especialmente em restaurantes e bares, que estão sempre sujeitos a multas.
Sem qualquer
apoio da direção da casa para dar um outro formato à Comissão, só me restou
atacar um problema crônico – a falta de informação dos consumidores sobre seus
direitos – tornando accessível a todos o Código de Defesa contido na Lei 8078
de 1990. Como fiquei isolado nesse propósito, vi-me forçado a renunciar à sua
presidência antes de concluir o mandato na comissão.
Relação cada vez mais desigual
De lá para cá, a
relação com o consumidor ainda se tornou mais desigual.
Construtoras
decidiram que não basta vender os imóveis – criaram mecanismos para controlar
os condomínios, de forma a eternizarem-se na exploração de seus clientes e de
minimizar as reclamações asseguradas
pela garantia de 5 anos.
Fabricantes e
concessionárias de automóveis introduziram obrigatoriedades de revisões
sobrepostas à quilometragem. Estas agora são exigidas também por prazos, de
forma que você tem de gastar sempre, independente do desgaste das peças.
Os grandes
prestadores de serviços – da energia
elétrica à banda larga, passando pela
telefonia e pela tv a cabo – abusam da demora no atendimento, mesmo quando
agendam os serviços. Nos casos da
telefonia, além das deficiências dos produtos e serviços oferecidos,
habituaram-se a superfaturar, sem dar condições efetivas para reclamações e
correções.
As grandes
empresas se protegem nos biombos de call
centers, instalados onde a mão de obra é mais barata e confiados a pessoas
totalmente despreparadas. Em atendimentos enervantes recorrem a demoras
cansativas e servem-se do jogo de empurra de um setor para outro, além de ser
comum as ligações caírem no seu decorrer,
desestimulando os usuários de reclamarem de contas que vêm sempre a mais, especialmente
nos planos promocionais.
O mais grave é
que para certas reclamações, as operadoras só atendem por telefone. Não adianta
ir numa loja.
Decreto do Call Center virou piada de mau gosto
Isso tudo apesar do Decreto-Federal 6.523, de 31 de julho de 2008, apelidada de “Lei do Call Center” que visava disciplinar os SACs – serviços de atendimento aos consumidores.
Esse decreto,
que pode ser lido na íntegra no nosso blog NOS LABIRINTOS DO DIREITO, virou uma
grosseira piada de mal gosto, porque é
burlado na maior cara de pau, a começar pelo seu artigo 4º, que estabelece: “O SAC garantirá ao consumidor, no primeiro menu eletrônico, as opções de
contato com o atendente, de reclamação e de cancelamento de contratos e
serviços”.
Já no parágrafo
2º do Art. 10º, está inscrito: “Nos
casos de reclamação e cancelamento de serviço, não será admitida a
transferência da ligação, devendo todos os atendentes possuir atribuições para
executar essas funções”.
Nos chamados
combos há vendas casadas: você é
obrigado a ter uma banda larga 3G nas ofertas de alguns planos e a pagar pelo
uso da internet por um cálculo que o
consumidor não consegue conferir.
As empresas não se limitam a desrespeitarem os consumidores. São tão senhoras de si que não tomam conhecimento sequer de leis contra
seus abusos. Foi o que aconteceu com a Lei
3773/04, de nossa autoria, que obriga as concessionárias a enviarem as
faturas com no mínimo dez dias de antecedência do seu vencimento. O comum é chegar uma fatura de véspera,
criando embaraços para eventuais reclamações.
Fidelização abusiva e falta de suporte para vendas em
massa
Há também o expediente que obriga a fidelização por no mínimo um ano. Essa fidelização é uma cláusula abusiva que precisa ser derrubada: em troca de um aparelho oferecido no pacote, o consumidor não pode muar de operadora, a menos que pague uma quantia a título de multa que é muito maior do que o valor do aparelho.
Na febre de
vendas e promoções, além de call centers precários, as empresas não oferecem
cobertura de sinal em todas as regiões das cidades, variando essas deficiências
entre as operadoras. Há áreas de sombra que se perpetuam, sem que sejam
atendidas as reclamações dos usuários.
No caso das
operadoras de telefonia, que somam o maior número de reclamações nos Procons, mesmo
que não agissem de má fé, seu atendimento é precário porque a quantidade de linhas
habilitadas não é acompanhada pelo crescimento do suporte. Segundo um sindicato
do setor, o calll center é também estressante para seus operadores, que duram
em média um ano no emprego.
Segundo a Anatel, em maio de 2012 existiam
254.948.934 de aparelhos para uma população de 192 milhões de habitantes, dos
quais 84% em áreas urbanas. Desse total, 46.456.691 são pós-pagos.
Já os telefones
fixos somavam em maio de 2012, segundo a mesma Anatel, 43 milhões e 200 mil
aparelhos. Nesse caso, os maiores problemas são da demora nos consertos e
instalações. Mas as contas também apresentam discrepâncias absurdas.
Alias, em compras
feitas por telefone, em muitos casos, o consumidor não tem acesso prévio aos
contratos, redigidos sempre de forma dúbia e de fácil manipulação pelos
vendedores.
Bancos faturam serviços por conta própria
Os bancos abusam
na cobrança de serviços e nas contas dos cartões de crédito. Nessa área, há uma tendência perigosíssima de
concentração em alguns poucos conglomerados, formando oligopólios. Bancos e
concessionárias de telefonia encabeçam a lista de reclamações nos PROCONS do
país, segundo balanço do Departamento de Defesa e Proteção do Consumidor do
governo federal. Entre os 10 mais reclamados, as operadoras Oi,
Claro-Embratel, Tim e Vivo somaram 204
mil 171 queixas em 2011, em 23 Estados e
Distritos Federal . Já os bancos Itaú, Bradesco, Santander e Brasil chegaram a
168 mil 681 reclamações. E os índices de
solução são insignificantes.
Esses dados se
referem apenas às queixas em 23 PROCONS.
Mas ao todo existem 170 desses serviços espalhados pelo país, muitos funcionando
sem condições reais de fiscalização.
Há pessoas que
procuram serviços dos poderes legislativos, organizações não governamentais ou
vão direto aos juizados especiais. Isso sem falar nas que conseguem ser
atendidas pelas próprias empresas. Em relação aos juizados, as pendências já
estão durando mais de um ano e há situações em que os consumidores encontram
dificuldade até para registrar queixas nos juizados.
Planos de saúde também não cumprem prazos
A situação dos usuários de planos de saúde é igualmente caótica. A Agência Nacional de Saúde tem recebido milhares de reclamações sobre o não cumprimento da Resolução 259, de dezembro de 2011, que fixou prazos para consultas, exames e cirurgias.
No dia 3 de
julho de 2012, a ANS informou que entre março e junho deste ano, foram feitas 4.682
reclamações por beneficiários de planos de saúde referentes ao não cumprimento
dos prazos máximos estabelecidos. Das 1.016 operadoras médico-hospitalares
existentes, 162 receberam pelo menos uma queixa.
Dessas, 105
operadoras médico-hospitalares apresentaram reclamações nos dois períodos de
avaliação: 40 se encaixam no critério para a suspensão da comercialização dos
produtos, o que já está sendo analisado pela ANS, o que só acontece raramente.
As compras pela
internet e as qualidades dos serviços também não ficam atrás na insatisfação
dos consumidores. Americanas, Submarino,
Shoptime, Ponto Frio e Ricardo Eletro somaram 55 mil 227 reclamações em 2011. E
o consumidor ainda está exposto a muitas arapucas que aparecem sob várias
formas na comercialização e intermediação de produtos comprados à distância por
um sistema que não existia
quando da sanção do Código do Consumidor, a Lei 8078 de 11 de setembro de 1990.
Nosso
compromisso: apresentar projeto estabelecendo condições para expedições de alvarás nos termos da legislação sobre consunidor; atuar com firmeza para fazer a Comissão de Defesa do Consumidor da
Câmara Municipal funcionar com eficiência e independência, nem que isso
implique em choque com outros vereadores, que tomam conta da comissão mediante
acordos políticos. Se for necessário, promover audiências públicas e legislar
sobre o funcionamento da Comissão.
Muitos clientes gravam suas desastrosas relações com os "call centers". Clique na foto e veja o que esse relata. |
boa tarde,sou vereador gostaria de saber mais sobre que leis devo ter conhecimentos sobre o cancelamento deste tipo de cobranca que na minha cidade ainda e cobrado, venho lhe pedir atraves deste vasto conhecimento sobre o assunto! algo de novidades para termos o sucesso que o rio de janeiro conseguiu... aguardo suas condolencias
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