Sem transportes de massas confiáveis, compramos o carro mais
caro do mundo e ainda somos penalizados
Como todas as grandes cidades do mundo, o Rio de Janeiro está
pagando um preço alto pelo crescimento desordenado de sua população, pelos
longos deslocamentos que somos obrigados a fazer e pela falta de políticas
públicas de transportes que nos permitam abrir mão de nossa própria condução.
Ter carro é muito mais do que um acalentado sonho de
consumo. É uma ferramenta de sobrevivência que só poderia ser dispensada no ir
e vir para o trabalho se contássemos com transportes de massa confiáveis, distribuídos
numa malha que operasse como veias de escoamentos racionalizadas e considerasse
as demandas em sintonia com os deslocamentos não atendidos entre os bairros de
moradia e os locais de trabalho.
Por anos a fio as políticas de transportes coletivos foram
ditadas pelo cartel das empresas de ônibus. Todos os grandes investimentos
públicos, antes de beneficiarem os passageiros, antes de oferecerem opções
reais de condução para estimular as pessoas a deixarem seus carros em casa,
destinaram-se claramente ao favorecimento das empresas do ramo, que são muito
bem articuladas em todas as esferas do poder, sem exceção.
Cartéis dos ônibus limitam Metrô a uma cariticatura
Além de pesados investimentos públicos concentrados em
transportes rodoviários, todas as administrações municipais têm sido generosas
com as empresas de ônibus: este ano, suas tarifas foram reajustadas em janeiro
em 10% no Rio (quando tinha havido outro aumento em abril de 2011) e em 12,27%
nas linhas intermunicipais.
Essa hegemonia das empresas de ônibus é tão abusada que o próprio sindicato dos rodoviários está no esquema: quando não conseguem os reajustes que querem nas negociações com a Prefeitura, elas recorrem às greves dos seus empregados, pela existência de uma cláusula que vincula o aumento salarial ao das tarifas.
O Metrô do Rio de
Janeiro, outro nicho de favorecimentos quem tem a tarifa mais cara do país, é
uma caricatura em relação aos transportes sobre trilhos nas grandes cidades do
mundo.
Tem pouco mais de 44 Km, 35 estações, 32 trens (com 6
carros,cada) e duas linhas. Fica atrás, em extensão, de 69 metrópoles, algumas
das quais com menos da metade da população do Rio.
Em São Paulo, que também não atende à demanda, tem 74 km de extensão, 64
estações e 5 linhas.
Nsse quadro, o Metrô do Rio não aparece. Em extensão é o 69º entre as cidades do mundo. |
Usando os parâmetros da concessionária na relação veículos/passageiros,
passam diariamente pela Linha Amarela 598.500 pessoas, a bordo de 450.000
veículos, 45 mil a menos das
transportadas pelo Metrô em suas duas linhas de 44 Km. Fazendo outra conta,
veremos que o Metrô carioca registra 14.659 passageiros/dia por KM, enquanto a
Linha Amarela recebe 39.000 pessoas/dia por KM.
Em Madri, com 3 milhões e 200 mil habitantes, o Metrô tem
uma extensão de 293 km, com 300 estações, por onde passam diariamente quase 2
milhões de usuários. Isso é possível por uma malha entrelaçada, ao contrário do
Metrô do Rio, que é praticamente linear e sua integração se faz com linhas de
ônibus.
A malha do Metrô de Madri entrelaça destinos. No Rio as duas linhas são lineares. |
No Rio, a primeira linha foi aberta onde a necessidade era
menor. Bairros como Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio ficaram para depois,
embora fossem os que registravam maior adensamento. Na Barra, uma linha com
traçado polêmico terá como ponto final o Jardim Oceânico, isto é, não atingirá
nem 10% do bairro.
Sem corredores para o transporte individual
Vivemos então um grave dilema: o transporte individual é
indispensável, mas os corredores de escoamento não suportam a demanda nas horas
de deslocamento compulsório, fazendo com que, mesmo de carro, o morador leve
até duas horas para ir e duas horas para voltar no deslocamento para o Centro.
Isso tem obrigado a sair de casa cada vez mais cedo para evitar as horas de
pico. E tem levado muitos moradores da Barra e Jacarepaguá a se mudarem para a
Zona Sul e Tijuca, onde os prédios não oferecem as mesmas condições de
habitabilidade.
Ter carro, no entanto, é quase um exercício de masoquismo,
começando pelos preços, que são encarecidos pela alta carga tributária, mas que
também refletem margens de lucros exageradas. Tanto que, quando a General
Motors estava à beira da falência nos EUA, em 2009, a filial brasileira, que não
é nenhuma campeã de vendas, funcionava no azul com a maior tranquilidade.
Pesam na formação dos preços de carros entre os mais caros
do mundo três fatores: planilha voltada para o retorno a curto prazo, carga
tributária que pode superar os 50% do custo e juros elevados, que fazem um
carro financiado em 48 meses custarem mais do dobro do preço à vista.
Caros brasileiros custam a metade em outros países
Um carro fabricado no Brasil, como o Honda City, pode ser
adquirido no México pela metade do valor, isto porque a política tributária
privilegia as exportações. Agora, com a crise nos grandes mercados e a
valorização do real, as vendas para o exterior caíram a níveis muito baixos e o
governo recorre a medidas paliativas, com o único objetivo de limpar os pátios
das montadoras, no que o consumidor brasileiro entra como boi de piranha: corre
atrás das promoções agora, com medo de pagar muito mais depois.
Veja como pagamos mais até por carros fabricados aqui
Tributação de mais de 40% nos carros vendidos no Brasil, ganhos superfaturados e juros elevados pesam nos preços dos carros vendidos aqui.
Se fosse só isso...mas,
- O Rio de Janeiro cobra o seguro mais caro do país. E ninguém é maluco para deixar um carro zero sem seguro. Por isso, muitas empresas emplacam seuas carros em outras cidades e fazem seguros à distância.
- Além do DUDA de primeira licença, do IPVA que pode chegar a 4% do valor do veículo, o carioca está morrendo também na compra obrigatória de placas reflexivas, vendidas pelo próprio DETRAN. Hoje, independente do valor do carro, você tem de pagar R$ 151,51 por duas placas que antes não saiam por mais de R$ 20,00.
- O brasileileiro paga uma gasolina caríssima, onerada por uma carga tributária extorsiva. Com base no último levantamento de preços da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a carga de tributos federais (PIS/Cofins e Cide) e estadual (ICMS) corresponde a 40% do preço na bomba por litro de gasolina e a 22% do diesel. O preço de realização da Petrobras representa 33% do valor cobrado na bomba por litro de gasolina e 61% no litro do diesel, enquanto a margem bruta de revenda e distribuição totaliza 17% e 11%, respectivamente.
- Além de pagar uma carrada de impostos, por dentro e por fora, o carioca é o único no país que paga pedágio urbano. E não é pouco: quem vai e volta da Barra e Jacarepaguá morre em R$ 9,40 na Linha Amarela, contra R$ 4,60 na Ponte Rio-Niterói (onde só há cobrança numa direção).
- Se não tiver estacionamento no trabalho, o carioca ainda tem de arcar com estacionamentos caríssimos, ou cair na mão de flanelinhas. Na Marechal Floriano, paralela à Presidente Vargas, há mafuás cobrando R$ 18,00 pela primeira hora. Muitos desses estacionamentos milionários são terrenos públicos dados em cessão de uso a alguns apadrinhados, sabe Deus a que preço. O “Vaga Certa”, que cobra R$ 2,00 por períodos de duas horas é ilegal, porque não se pode explorar o espaço de uma via urbana. Apesar disso, está como forma de inibir os guardadores informais.
- Os shoppings abusam nos preços dos estacionamentos. Todas as tentativas de reduzir as extorsões caíram na Justiça. Acontece que o comércio está cada vez mais concentrado nesse sistema e, o que é mais grave, há shopping em que parte do seu estacionamento é em terreno “cedido” pelo poder público. É preciso recorrer ao Código do Consumidor para definir a cobrança do estacionamento em shopping como “venda casada”.
- Como já foi dito, o trânsito não considera nenhuma variável que leve ao escoamento, a não ser, em alguns casos, a faixa reversível durante as horas de pico. Como consequência, mesmo tendo seu carro particular, o cidadão pode gastar até 4 horas no deslocamento diário para o trabalho, o que significa onerar os custos de transportes e afetar a própria qualidade de vida e disponibilidade produtiva dos cidadãos.
O compromisso do nosso mandato é atacar a questão dos
transportes e do trânsito, buscando alternativas
que permitam cada um ter seu carro e convivendo com as necessidades dos
verdadeiros meios de transportes de massa. Ao mesmo tempo, é preciso estimular pela
via legislativa a descentralização da vida urbana, incentivando a instalação
das empresas, sobretudo de serviços, nos bairros onde há grande volume de
residências, isso, naturalmente, salvaguardando a qualidade de vida das
moradias. Finalmente, vamos questionar todos os gastos acessórios e
compulsórios que penalizam os proprietários de veículos. O abuso na cobrança
dos estacionamentos será prioritário no nosso mandato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário