quarta-feira, 25 de julho de 2012

Carro: para além de um mero sonho de consumo, uma ferramenta cada vez mais onerosa


Sem transportes de massas confiáveis, compramos o carro mais caro do mundo e ainda somos penalizados



Como todas as grandes cidades do mundo, o Rio de Janeiro está pagando um preço alto pelo crescimento desordenado de sua população, pelos longos deslocamentos que somos obrigados a fazer e pela falta de políticas públicas de transportes que nos permitam abrir mão de nossa própria condução.

Ter carro é muito mais do que um acalentado sonho de consumo. É uma ferramenta de sobrevivência que só poderia ser dispensada no ir e vir para o trabalho se contássemos com transportes de massa confiáveis, distribuídos numa malha que operasse como veias de escoamentos racionalizadas e considerasse as demandas em sintonia com os deslocamentos não atendidos entre os bairros de moradia e os locais de trabalho.
Por anos a fio as políticas de transportes coletivos foram ditadas pelo cartel das empresas de ônibus. Todos os grandes investimentos públicos, antes de beneficiarem os passageiros, antes de oferecerem opções reais de condução para estimular as pessoas a deixarem seus carros em casa, destinaram-se claramente ao favorecimento das empresas do ramo, que são muito bem articuladas em todas as esferas do poder, sem exceção.

Cartéis dos ônibus limitam Metrô a uma cariticatura

Além de pesados investimentos públicos concentrados em transportes rodoviários, todas as administrações municipais têm sido generosas com as empresas de ônibus: este ano, suas tarifas foram reajustadas em janeiro em 10% no Rio (quando tinha havido outro aumento em abril de 2011) e em 12,27% nas linhas intermunicipais.

Essa hegemonia das empresas de ônibus é tão abusada que o próprio sindicato dos rodoviários está no esquema: quando não conseguem os reajustes que querem nas negociações com a Prefeitura, elas recorrem às greves dos seus empregados, pela existência de uma cláusula que vincula o aumento salarial ao das tarifas.

 O Metrô do Rio de Janeiro, outro nicho de favorecimentos quem tem a tarifa mais cara do país, é uma caricatura em relação aos transportes sobre trilhos nas grandes cidades do mundo.
Tem pouco mais de 44 Km, 35 estações, 32 trens (com 6 carros,cada) e duas linhas. Fica atrás, em extensão, de 69 metrópoles, algumas das quais com menos da metade da população do Rio.  Em São Paulo, que também não atende à demanda, tem 74 km de extensão, 64 estações e 5 linhas.
Nsse quadro, o Metrô do Rio não aparece. Em extensão é o 69º entre as cidades do mundo.
Segundo dados da própria concessionária, os trens do Metrô transporta  diariamente 645 mil passageiros, ou até 1.800 passageiros por composição. Para comportar esse número de pessoas seriam necessários 31 ônibus nas ruas. As cooperativas de vans deveriam disponibilizar 225 veículos. O número de passageiros transportados em um trem do metrô equivale a 1.200 automóveis circulando pela cidade.
Usando os parâmetros da concessionária na relação veículos/passageiros, passam diariamente pela Linha Amarela 598.500 pessoas, a bordo de 450.000 veículos,  45 mil a menos das transportadas pelo Metrô em suas duas linhas de 44 Km. Fazendo outra conta, veremos que o Metrô carioca registra 14.659 passageiros/dia por KM, enquanto a Linha Amarela recebe 39.000 pessoas/dia por KM.
Em Madri, com 3 milhões e 200 mil habitantes, o Metrô tem uma extensão de 293 km, com 300 estações, por onde passam diariamente quase 2 milhões de usuários. Isso é possível por uma malha entrelaçada, ao contrário do Metrô do Rio, que é praticamente linear e sua integração se faz com linhas de ônibus.
A malha do Metrô de Madri entrelaça destinos. No Rio as duas linhas são lineares.
 O da Cidade do México tem 201 km de extensão, com 175 estações. Londres, sede dos jogos olímpicos deste ano, tem 400 km de extensão e 270 estações.
No Rio, a primeira linha foi aberta onde a necessidade era menor. Bairros como Jacarepaguá, Barra da Tijuca e Recreio ficaram para depois, embora fossem os que registravam maior adensamento. Na Barra, uma linha com traçado polêmico terá como ponto final o Jardim Oceânico, isto é, não atingirá nem 10% do bairro.
Sem corredores para o transporte individual
Vivemos então um grave dilema: o transporte individual é indispensável, mas os corredores de escoamento não suportam a demanda nas horas de deslocamento compulsório, fazendo com que, mesmo de carro, o morador leve até duas horas para ir e duas horas para voltar no deslocamento para o Centro. Isso tem obrigado a sair de casa cada vez mais cedo para evitar as horas de pico. E tem levado muitos moradores da Barra e Jacarepaguá a se mudarem para a Zona Sul e Tijuca, onde os prédios não oferecem as mesmas condições de habitabilidade.
Ter carro, no entanto, é quase um exercício de masoquismo, começando pelos preços, que são encarecidos pela alta carga tributária, mas que também refletem margens de lucros exageradas. Tanto que, quando a General Motors estava à beira da falência nos EUA, em 2009, a filial brasileira, que não é nenhuma campeã de vendas, funcionava no azul com a maior tranquilidade.
Pesam na formação dos preços de carros entre os mais caros do mundo três fatores: planilha voltada para o retorno a curto prazo, carga tributária que pode superar os 50% do custo e juros elevados, que fazem um carro financiado em 48 meses custarem mais do dobro do preço à vista.
 
 
Caros brasileiros custam a metade em outros países
Um carro fabricado no Brasil, como o Honda City, pode ser adquirido no México pela metade do valor, isto porque a política tributária privilegia as exportações. Agora, com a crise nos grandes mercados e a valorização do real, as vendas para o exterior caíram a níveis muito baixos e o governo recorre a medidas paliativas, com o único objetivo de limpar os pátios das montadoras, no que o consumidor brasileiro entra como boi de piranha: corre atrás das promoções agora, com medo de pagar muito mais depois.

Veja como pagamos mais até por carros fabricados aqui

Tributação de mais de 40% nos carros vendidos  no Brasil, ganhos superfaturados e juros elevados pesam nos preços dos carros vendidos aqui.
Por isso, continuamos pagando uma fortuna por um carro, em comparação com outros países, como nos exemplos da tabela publicada acima.

Se fosse só isso...mas,
  1. O Rio de Janeiro cobra o seguro mais caro do país. E ninguém é maluco para deixar um carro zero sem seguro. Por isso, muitas empresas emplacam seuas carros em outras cidades e fazem seguros à distância.
  2. Além do DUDA de primeira licença, do IPVA que pode chegar a 4% do valor do veículo, o carioca está morrendo também na compra obrigatória de placas reflexivas, vendidas pelo próprio DETRAN. Hoje, independente do valor do carro, você tem de pagar R$ 151,51 por duas placas que antes não saiam por mais de R$ 20,00.
  3. O brasileileiro paga  uma gasolina caríssima, onerada por uma carga tributária extorsiva.  Com base no último levantamento de preços da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), a carga de tributos federais (PIS/Cofins e Cide) e estadual (ICMS) corresponde a 40% do preço na bomba por litro de gasolina e a 22% do diesel. O preço de realização da Petrobras representa 33% do valor cobrado na bomba por litro de gasolina e 61% no litro do diesel, enquanto a margem bruta de revenda e distribuição totaliza 17% e 11%, respectivamente.
  4. Além de pagar uma carrada de impostos, por dentro e por fora, o carioca é o único no país que paga pedágio urbano. E não é pouco: quem vai e volta da Barra e Jacarepaguá morre em R$ 9,40 na Linha Amarela, contra R$ 4,60 na Ponte Rio-Niterói (onde só há cobrança numa direção).
  5. Se não tiver estacionamento no trabalho, o carioca ainda tem de arcar com estacionamentos caríssimos, ou cair na mão de flanelinhas. Na Marechal Floriano, paralela à Presidente Vargas, há mafuás cobrando R$ 18,00 pela primeira hora.  Muitos desses estacionamentos milionários são terrenos públicos dados em cessão de uso a alguns apadrinhados, sabe Deus a que preço. O “Vaga Certa”, que cobra R$ 2,00 por períodos de duas horas é ilegal, porque não se pode explorar o espaço de uma via urbana. Apesar disso,  está como forma de inibir os guardadores informais.
  6. Os shoppings abusam nos preços dos estacionamentos. Todas as tentativas de reduzir as extorsões caíram na Justiça. Acontece que o comércio está cada vez mais concentrado nesse sistema e, o que é mais grave, há shopping em que parte do seu estacionamento é em terreno “cedido” pelo poder público.  É preciso recorrer ao Código do Consumidor para definir a cobrança do estacionamento em shopping como “venda casada”.
  7. Como já foi dito, o trânsito não considera nenhuma variável que leve ao escoamento, a não ser, em alguns casos, a faixa reversível durante as horas de pico. Como consequência, mesmo tendo seu carro particular, o cidadão pode gastar até 4 horas no deslocamento diário para o trabalho, o que significa onerar os custos de transportes e afetar a própria qualidade de vida e disponibilidade produtiva dos cidadãos.
O compromisso do nosso mandato é atacar a questão dos transportes e do trânsito, buscando  alternativas que permitam cada um ter seu carro e convivendo com as necessidades dos verdadeiros meios de transportes de massa. Ao mesmo tempo, é preciso estimular pela via legislativa a descentralização da vida urbana, incentivando a instalação das empresas, sobretudo de serviços, nos bairros onde há grande volume de residências, isso, naturalmente, salvaguardando a qualidade de vida das moradias. Finalmente, vamos questionar todos os gastos acessórios e compulsórios que penalizam os proprietários de veículos. O abuso na cobrança dos estacionamentos será prioritário no nosso mandato.

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