"Acampando" em Brasília, o vereador procurou
um a um diante do voto do ministro-relator contra a Lei 3123/00
Então presidente do Supremo, o ministro Maurício Corrêa (falecido recentemente) falou no Rio do respeito que tinha por Pedro Porfírio e sua biografia. |
O ministro Marco Aurélio Mello ouviu o então vereador Pedro Porfírio e puxou os votos contrários ao parecer do relator Carlos Veloso. |
Houve um dia em que um vereador do Rio
de Janeiro fez dez ministros do Supremo Tribunal Federal mudarem suas posições e votarem em peso contra
o parecer do relator para acolher seus argumentos e decidir favoravelmente à
sua Lei 3123/00, que o prefeito Cesar Maia havia levado àquela corte, numa
tentativa de obter uma decisão de inconstitucionalidade.
Essa Lei de Pedro Porfírio transformava os taxistas
escravos do regime de diárias em permissionários, tendo sido sancionada pelo
prefeito Luiz Paulo Conde. Mas seu
sucessor decidiu não cumpri-la e ainda arguir sua inconstitucionalidade no
TJ-RJ e depois no STF.
Essa virada aconteceu a
partir do voto do ministro Marco Aurélio Mello, com quem Porfírio teve seguidas
audiências e com o assentimento do ministro Maurício Corrêa, então presidente
do STF, a quem Porfírio recorreu inicialmente por já se conhecerem do tempo em
que ele era senador por Brasília.
Pedro Porfírio vinha travando
uma batalha contra a intransigência do prefeito Cesar Maia, que se recusava a
cumprir a Lei 3123/00, sancionada por seu antecessor, com quem havia brigado.
Graças à sua tenacidade,
primeiro Pedro Porfírio derrotou o prefeito em 2002 no julgamento do Órgão
Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por 17 votos a 4. Neste
momento, contou com o voto favorável do relator, desembargador Gama Malcher.
Mas o prefeito não aceitou o
revés e obrigou os beneficiários da Lei a impetrarem mandados de segurança. Quando
caía nas mãos do desembargador Renato Simoni, ele concedia liminar. Mas seu
colega na 9ª Câmara, Marcus Túlio, tinha decisão oposta.
Aí o recurso ia direto para o
STJ. Lá, as ministras Eliane Calmon e Laurita Vaz, da 2ª Turma, invariavelmente
concediam a liminar negada no TJ-RJ. Mas, como se sabe, a liminar é uma medida
provisória.
Daí a importância do
Julgamento no Supremo, onde uma matéria pode ficar anos. É o caso da ação da
Varig, que está lá há mais de 5 anos num calvário de 20 anos, desde a primeira
instância.
Trabalhando até 16 horas por dia para pagar diárias
Nos idos de 1999, os taxistas
que pagavam diárias viviam num clima de grande desespero, porque tinham de trabalhar até 18 horas por
dia para ter o dinheiro do dono do carro, pagar o combustível e levar algum
para casa.
Um grupo decidiu agir.
Primeiro, procurou o então vereador Edson Santos, que disse ser impossível
mexer no sistema, porque as empresas e proprietários de veículos tinham o
controle do Sindicato dos Taxistas, influência política e metiam medo na
categoria.
Depois, foram até o então
vereador Agnaldo Timóteo, que também não quis pegar a briga dos diaristas,
embora tivesse ele a fama de brigador.
Foi só então, por indicação
do taxista Mariano, de Campo Grande, que João Batista, à frente do grupo, foi
ao gabinete do vereador Pedro Porfírio.
Na mesma hora, começaram os
estudos sobre o que fazer para dar um basta no regime escravo das diárias.
- Eu faço a minha parte como
legislador, mas vocês precisam ganhar as ruas.
A primeira manifestação foi
marcada para a meia noite, saindo da esquina da Figueiredo Magalhães com
Atlântica, em Copacabana. A adesão foi maior do que esperada.
Porfírio confiou ao seu
assessor jurídico, Alexandre Baptista de Carvalho, a elaboração de um projeto
com três vigas mestras: acabava com o regime de diárias, proibia a compra e
venda de autonomias e transformava em permissionários os auxiliares registrados
até 30 de abril de 2000.
Houve uma reação violenta dos
que viviam da exploração dos taxistas, contando com a ajuda da própria
diretoria do sindicato, controlado por uma família perigosa, tendo à frente a
mulher do chefão, que era o tesoureiro: ela jamais trabalhara na praça.
Pedro Porfírio fala aos taxistas reunidos no Campo de São Cristóvão |
Vitoriosos no Supremo, os taxistas explorados aderiram à campanha para a reelieção de Pedro Porfírio |
O prefeito não se conformou e
entrou com o recurso especial 359444 junto
ao STF. A matéria entrou em pauta em
março de 2004, por pressão do vereador Pedro Porfírio, que ia toda semana a
Brasília. O relator, ministro Carlos Veloso, era contra a sua lei.
Porfírio não se deu por
vencido. Procurou um a um os 11
ministros do STF naquele 2004. Era um vereador do Rio de Janeiro conhecido por
sua integridade e pela firmeza de suas convicções e isso significava muito para
os titulares da Suprema Corte.
Mesmo informando sua posição
favorável ao recurso do prefeito, o ministro Carlos Veloso aquiesceu em colocar
a matéria em pauta. Era tudo que
Porfírio queria, convencido de que havia sensibilizado os seus colegas.
Mas depois do seu voto, o
primeiro divergente foi do ministro Marco Aurélio Mello. E partir dele, todos
os demais reconheceram a constitucionalidade da Lei, com um placar de 10 a
1, destacando-se em todos os julgamentos
a atuação do procurador da Câmara, Sérgio Ferrari.
Como autor do primeiro voto
divergente, o ministro Marco Aurélio foi designado para redigir a Ementa do
Acórdão. Seu texto considerou a justificativa de Pedro Porfírio na apresentação
de sua Lei.
Eis o que O ministro Marco
Aurélio escreveu no Acórdão:
"A Administração
Pública submete-se, nos atos praticados, e pouco importando a natureza destes,
ao princípio da legalidade. TAXISTA - AUTONOMIA - DIARISTA - DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA - TRANSFORMAÇÃO - LEI MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO Nº 3.123/2000 -
CONSTITUCIONALIDADE. Sendo fundamento da República Federativa do Brasil a
dignidade da pessoa humana, o exame da constitucionalidade de ato normativo
faz-se considerada a impossibilidade de o Diploma Maior permitir a exploração
do homem pelo homem. O credenciamento de profissionais do volante para atuar na
praça implica ato do administrador que atende às exigências próprias à
permissão e que objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei
viabilizadora da transformação, balizada no tempo, de taxistas auxiliares em
permissionários”.
Pedro Porfírio foi escolhido pela imprensa o melhor vereador de 2004. Muitos taxistas recortaram a notpícias, plastificaram e guardaram. |
Bom dia. Tenho 67 anos e sou filho de um funcionário público que também era taxista. Era uma época tranquila. Você comprava um carro, emplacava com um placa vermelha, serviço profissional, e tirava um autorização, a autonomia, praticamente de graça, e pronto. Realmente, o seu, foi um belo trabalho. Pena que as coisas estão voltando, tem muita gente como "auxiliar", se submetendo, se não estou enganado. Saudações. Carlos A M de Lima, camlima@superig.com.br
ResponderExcluirCarlos
ResponderExcluirInfelizmente, o ex-prefeito Cesar Maia conseguiu desfigurar a Lei, porque, de fato, o ASTF só julgou o seu artigo primeiro, o que gaantia a transformação em permissionários dos antigos auxiliares. Quando eu não fui reeleito, ele consegiu mudar tudo, restaurando o regime escreavo das diárias e a compra e venda de autonomais.
Porfíorio, só uma pessoa como você para tratar do assunto táxista com clareza e sabedoria. Somos na realidade escravos dos gananciosos e eu com certeza além de estar contigo, farei divulgação do teu trabalho. Seu site será divulgado com mais intensidade. Um abraço e conte com o amigo.
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